SINDICATO DOS PROFESSORES NO ESTADO DE SANTA CATARINA
O retorno as atividades acadêmicas nas instituições de educação superior comunitária, em Santa Catarina, se transformou no enredo fatídico de “demissões em série”, com comunicados nada agradáveis para inúmeros colaboradores.
Toda a sociedade catarinense acompanhou o desfecho da crise de uma das maiores instituições do sistema ACAFE – a UNISUL, com elevação de sua dívida financeira de curto prazo, atraso de salários, queda do número de alunos matriculados, e, substancial encolhimento na participação no “mercado da educação superior”. A participação do Sindicato dos Professores no Estado de Santa Catarina, SINPROESC, foi fundamental, minimizando os efeitos nefastos e garantindo direitos dos professores, que, sem atuação profícua e amiúde, redundariam em perdas substanciais aos professores dispensados sumariamente.
O resultado da crise da UNISUL, agora se evidencia na tormentosa crise de outras instituições, entre elas: a UNIVALI. Como duas grandes instituições de educação superior comunitária entraram no roldão da crise, não surpreende. É um desenrolar do “modus operandi” que traduz ascensão e queda como resultado de mecanismos operacionais de gestões burocrática-autoritárias, atendimento de interesses de elites provincianas locais, e, fundamentalmente, investimentos alicerçados nos aportes financeiros de entes públicos, sejam eles: municipais, estaduais ou federais.
As sucessivas gestões da última década, e, especialmente, a atual, são destacadas por um gerenciamento temerário, num cenário de retração na demanda por matrículas, ofertas de cursos com baixa aderência ao desenvolvimento local e orientação gerencial marcada por opacidade, falta de transparência, compadrio político e claro eixo orientado para gestão de caixa, em clara obediência as instituições financeiras que financiam o déficit operacional frequente. O aumento da dívida de curto prazo do passivo fiscal e trabalhista faz desta INSTITUIÇÃO COMUNITÁRIA, uma refém dos desígnios PRIVATISTAS, com a total subserviência de suas gestões.
A proposta da gestão da UNIVALI é marcada por uma ação de conflitos, confrontos e sucessivos desligamentos de colaboradores, com ápice em fevereiro de 2020, quando aproximadamente 200 funcionários, entre técnicos e professores, são desligados ou pedem demissão, motivados por ações institucionais que destoam do programa lançado em campanha, que tinha como sugestivo mote “CONECTAR PESSOAS”, FAZER UMA GESTÃO MAIS DEMOCRÁTICA, inclusive, propondo ELEIÇÕES DIRETAS PARA O CARGO DE REITOR. A prática dos quadros dirigentes é distinta das promessas eleitoreiras.
No enredo da crise sem transparência, os Diretores das Escolas de Conhecimento (sic!), coordenadores de cursos, tratam de garrotear profissionais que adotam ações pedagógicas que apresentem um pensamento crítico-reflexivo sobre a realidade, com sucessivo assédio ao trabalho docente, gerando uma instabilidade empregatícia, como garantia de “estar empregado” na Instituição. Sem qualquer rodeio ou diálogo, em claro distanciamento dos Projetos Político Pedagógicos dos Cursos, sem consulta aos Núcleos Docentes Estruturantes, Colegiados de Cursos, docentes e discentes, alteram grades curriculares com disciplinas propedêuticas e das Ciências Humanas, transferindo para modalidade de EAD, com clara intenção em reduzir custos.
O critério de excelência é alterado pelo de menor custo!! Quando uma Universidade abre mão de doutores e mestres qualificados, em nome da redução de despesa, o único resultado é o abandono da qualidade, com claro comprometimento do conhecimento d@s alun@s, e, na formação dos futuros egressos.
No curso dos últimos dois anos, a comunidade acadêmica, observa apreensiva, o aumento do ENDIVIDAMENTO, A IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EAD) SEM QUALQUER DIÁLOGO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO, A REDUÇÃO NO QUADRO DE FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES, A BUROCRATIZAÇÃO DAS INSTÂNCIAS INSTITUCIONAIS, A FALTA DE DIÁLOGO E PLURALIDADE, e, substancialmente, uma política institucional que atende os interesses particulares e privatistas desta que foi considerada, uma das maiores UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS DE SANTA CATARINA.
Cotidianamente, a UNIVALI tem adotado práticas abusivas de assédio moral no trabalho, imprimindo um discurso de pânico e medo nos diversos cursos de graduação, sob a batuta de uma CRISE FINANCEIRA sem fim, fruto de gestões despreparadas, enviando a FATURA GERADA para o quadro técnico-administrativo, quadro docente, e, para funcionários terceirizados. O resultado da política do medo é o “silêncio cúmplice”, a adoção de substituições dos professores com experiência e titulação, por docentes mais baratos e na modalidade EAD, no esteio do aumento de PRÓ-REITORIAS para os apoiadores da gestão.
Em que pese o atual quadro de crise financeira em agravamento, a falta de uma política institucional democrática, e aportes sucessivos de recursos públicos, o Ministério Público e os Vereadores do Município de Itajaí silenciam no vilipêndio de um patrimônio público comunitário que está prestes a ser entregue a lógica da privatização branca, tal como ocorreu recentemente com a UNISUL.
No total descompasso com sua missão principal, a UNIVALI, lentamente perde seu caráter comunitário, limita a participação dos segmentos da comunidade acadêmica: acadêmicos, docentes e técnico-administrativos apreensivos em relação ao seu futuro, pois, fundamentalmente, as promessas de campanha se desmancham num mar de promessas vazias inatingíveis.
Na velha política da tesoura, ceifando cabeças de professores e funcionários, o resultado é pura perversidade diante de uma promessa de novos tempos institucionais. A adesão passiva ao receituário de privatização dos espaços públicos e comunitários, transformou a educação em mercadoria, que troca conteúdo por embalagens para vender um produto. Assim, a UNIVALI vai entregando os anéis, para não perder os dedos, porém, os gestores se atiram de corpo e alma aos desígnios mercadológicos sem qualquer lastro com a história de uma sonhada UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA, operando uma “doutrinação ideológica” para o mercado, destoando da sua missão institucional que propõe formar “cidadãos críticos e éticos para tomada de decisões conscientes”. É a pá e o cal para enterrar instituições, assim como, o próprio sistema comunitário educacional superior em SC – ACAFE. São mais de 200 demissões, perseguições e corte de horas sem precedentes.
Como fazer algo novo, com práticas e políticas institucionais amparadas no velho receituário? Como diz o cancioneiro popular “Quem afia a faca, sabe para que serve o fio…”
Professor Carlos Magno da Silva Bernardo
Presidente